Certo dia uma andorinha,
Constrói a sua cazinha,
Num lugar a seu contento:
É num moinho de vento,
Parado à noite e de dia,
Porque há muito não moía.
Não foi dentro do moinho
Que fizera o seu ninho.
Fê-lo, de certa maneira,
Numa das pás de madeira
Que formam a ventoinha.
Já rachada, já velhinha,
Apodrecendo, travada,
Porque já não era usada.
Ela fez os seus projectos,
Fez cálculos muito certos.
Juntou os materiais:
Muita lama e coisas mais.
Em farpas bem colocadas
Naquelas tábuas rachadas,
Arquitectou o seu ninho
Com formato redondinho,
E tinha só um postigo
Esse bem cuidado abrigo.
Um ninho muito engraçado,
Nem lhe faltava o telhado.
Ajudou-a o seu parceiro.
Um casal verdadeiro.
Começou a pôr ovinhos
E nasceram os filhinhos.
II
Dois meninos vão da escola,
Com os livros e uma bola,
Naquele sítio a passar:
Ouviram piar, piar...
Parecia chamamento
A pedir mais alimento.
Descobrindo os passaritos
Começaram logo aos gritos:
--- Olha um ninho! Olha este ninho!
Qual será o passarinho?
--- Andorinha; é o mais certo...
Mas vamos ver lá de perto.
É só destravar as velas,
Logo o ninho desce nelas.
Destravadas, num momento,
Ficam à mercê do vento
Que logo as põe a rodar,
Trazendo o ninho a baixar.
Lá no ninho, os passarinhos,
Ficam tão assustadinhos
Que piavam sempre mais
A chamarem pelos pais.
Estes cuidavam da vida,
Indo buscar-lhes comida.
Um espreitou à janela.
De repente caiu dela,
E, no chão, entre o relvado,
Chorava muito assustado:
--- Piu, piu, piu...Eu vou morrer...---
Os meninos, a correr,
Logo o tomaram nas mãos,
Para o levar aos irmãos.
Com afagos e carinho
Lá o puseram no ninho.
Era um sentir verdadeiro;
Assim, do seu merendeiro,
Tiram migalhas docinhas
Para dar às andorinhas.
Com tanto zelo por elas
Travaram melhor as velas.
Esposende, 1999
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
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