terça-feira, 18 de dezembro de 2007

dar sentido, livremente, a palavras à-toa… II

Mote:

Fantasma, Sol, loucura, telemóvel, afecto, amizade, orvalho, tu, amizade, justiça, Natal, amizade, saudade, saudade, saudade, por do sol, sinceridade, amor, sinceridade, Serpa, água, recordação, sol, amizade, crepúsculo, esperança, mãe, tenho pressa, cheguei lá, coucher du soleil, amor, nascer, lágrima, consciência, lar, Porto, coração.


O Sol agasalhava aquele lago, sonolento, com um manto quente e brilhante. Encantada, sentei-me ali, junto dele, para sentir também aquele afago do Sol e beber a tranquilidade daquela água adormecida. Era Natal. Com uma lágrima de saudade que nunca adormece, veio-me a recordação dos Natais no lar da minha infância: a mãe, o pai, irmãos, amigos… tanto amor, tanta amizade, alegria!... Mas já partiram quase todos… Deixaram a saudadesaudade, tanta saudade! E eu, já no pôr-do-sol da vida, vou ficando, por mercê de Deus, para acumular saudade e mais saudade, tanta, que se transforma em fantasma… Será isto loucura? O meu coração diz: o que tu sentes é saudade, amizade, saudade, afecto, amor, saudade

Com sinceridade, faço-lhe justiça, concordando que, mesmo no crepúsculo da vida, não tenho pressa de chegar lá, aonde estão os que já partiram…Em consciência, prefiro sentir na alma o orvalho gelado da saudade

Au coucher du soleil, o telemóvel, na carteira, ao meu lado, gritou-me que, se a água do lago dormia, eu não podia adormecer ali, a perder a esperança, como perdi afectos e sonhos. Era a Esperança Serpa, do Porto, cidade que sempre me encantou, a convidar-me, com amizade, para ir passar o Natal com ela. Deixar a solidão do meu lar, em Serpa, e abalar para o Poro, deu-me nova esperança. Assim animada, tenho pressa de chegar lá, e contemplar a descomunal árvore de Natal, erguida na Praça, em frente à Câmara. Além de outros símbolos, esta árvore significa, também, que os tripeiros não se atemorizam com o fantasma da crise económica, nem com o crepúsculo triste do futuro… É gente que sabe resistir, sem lágrimas, a tanto por do sol nas suas vidas, e nunca perde a esperança, nem a fé em Deus. Sem loucura, em consciência, e com justiça, como prémio do seu esforço e amor ao trabalho, sabe aproveitar todas as oportunidades para gozar a vida, o melhor que pode, onde pressentir a presença da alegria. Este ano, é a árvore gigante de Natal, que o deslumbra, apesar da saudade, tanta saudade do humilde Presépio, donde lhes sorria o Menino Deus, num sorriso de Amor divino, que fazia nascer nas almas uma alegria mais luminosa e mais salutar, que todas as falsas iluminações de ruas e de árvores de Natal, que cegam os olhos e deixam a alma com a tristeza do crepúsculo, a entrar na noite…Sim, apesar de todos os revezes, de tantas recordações boas e más, e tanta saudade, no tripeiro está sempre a nascer-lhe a esperança!...

dar sentido, livremente, a palavras à-toa… I

Mote:
fantasma, Sol, loucura, telemóvel, afecto, amizade, orvalho, tu, amizade, justiça, Natal, amizade, saudade, amizade, saudade, pôr-do-sol, sinceridade, amor, sinceridade, serpa, água, recordação, Sol, amizade, crepúsculo, esperança, mãe, tenho pressa, cheguei lá, coucher du soleil, amor, nascer, lágrima, consciência, lar, porto, coração

I
O meu fantasma és tu, recordação
Do nascer da amizade. Essa amizade
Que é amor, mas, se acaba…ai, é saudade.
afecto de mãe tem duração.

Amor que não se firma na amizade,
Em consciência, dá inquietação
À alma; e tremura ao coração
Com o orvalho frio da saudade

─ Eu vou do Porto a Serpa. Tenho pressa. ─
Informou a Saudade, no Natal:
Nos olhos tinha a lágrima, que expressa

O crepúsculo dum amor letal:
O rude telemóvel, a arremessa
Na loucura de haver uma rival...

II
─ Au coucher du soleil, eu cheguei lá,
Ao lar familiar, onde há saudade.
Mas, quem me chamou Sol, com amizade,
E me jurou amor, aonde está?... ─

Sem esperança, conta-me, a Saudade,
Que o seu afecto não mais morrerá,
Mas que o seu amor, ai, não voltará,
Porque nele não há sinceridade

Gotas de água rolavam dos seus olhos
Como orvalho a cair ao pôr do sol.
Mas, a justiça logo arreda abrolhos:

De esconderijo sai, como arrebol,
O amor, que fingiu só dar-lhe escolhos,
Para fazer voltar, veloz… o Sol...

O Silvestrinho

I
A minha filha tem um lindo gato.
E gordo. Que se chama Silvestrinho.
Não fui eu a madrinha do bichinho:
Nome de gente em bicho eu rebato.

Este nome, a exprimir tanto carinho,
Num bicho: boi, ovelha, cão ou pato,
Causa na minha mente desacato...
Só deve pertencer a nenenzinho...

Além disso é um nome tão comprido!
Pronunciá-lo, é mesmo cansativo.
Se o chamo por nome reduzido,

Para refeição ou aperitivo,
Dá sinal de que não fica ofendido,
Ao chamamento não se mostra esquivo.

II
Assim, mostra que tem grande esperteza.
É habil; temos disso a demonstração:
Dos ruídos já faz a atenção:
Se é da porta dum quarto, com destreza

Dá um salto com muita precisão,
E esconde-se, como em fortaleza,
Bem debaixo da cama, com a certeza
De que isso lhe vai render ração...

Rende: pois ouve o saco da comida,
Abanado e a fazer alto ruído:
Surge à porta do quarto, e em corrida,

Vai para o comedouro, atraído
Por iguaria, extra, concedida
Pela esperteza... E não será traído...

III
Se faz ruído, a porta do terraço,
A rapidez é tanta que atrapalha!
De entre os meus pés dá salto, que não falha,
Lá para fora, num desembaraço!

Se a porta da despensa, às vezes calha,
De estar aberta só um leve traço,
Ele a abre com artes de palhaço,
E faz rir! Mas depois... Que Deus nos valha:

Se o saco da comida pesa pouco,
Trá-lo na boca pois é um glutão;
Se o deixa cair, parece louco,

A fugir... e a comida lá no chão...
E mesmo que o chame, faz-se mouco...
Para não vir comer ali o grão...

IV
Temos nós de apanhar ou de varrer
Tanto grão que ele deixou lá espalhado.
Outras vezes é bem mais descarado,
Mesmo dentro do saco ele comer.

Assim engorda... Está talvez pesado...
Minha filha, essa gula quer deter;
“O Silvestrinho pode adoecer;
O coração lhe fica molestado...”

A meu ver, só os extras são demais...
À hora de comer... que desventura:
Mimos da minha filha, acha-os banais.

Como eu lhe dou ração com mais fartura
Vê em mim a ração e nada mais:
À hora de lha dar... a mim procura.

V
Respeita-me, pois tem educação.
Do meu quarto dou-lhe ordens de saída;
Então, logo se vai numa corrida.
Nos outros quartos faz embirração...

Esconde-se e deixa-me aturdida,
A procurá-lo. E ele sem reacção.
Pêlo seu, no meu quarto, é aflição,
Pois receio ficar demais tolhida,

Se me causa alergia na garganta.
"Para trás!" Eu lhe ordeno ao vê-lo entrar;
Ele desanda, e vai... Até me espanta!

Do outro lado espera, pertinaz,
Atravessado onde eu irei passar.
Até nisto se mostra muito audaz.

VI
Tem o faro apurado: de repente,
Salta, e lá vai por-se à porta da rua.
Estranho... E o silêncio continua...
Para mim não há nada diferente...

Mas houve para o gato. Sorte sua!
Chegou a minha filha. Ele a pressente!
Um faro assim, jamais será de gente.
Onde houver Pão-de-Ló, ele não recua,

Nem à força, pois quer a guloseima.
Zangado, salta à mesa num instante,
A mostrar que persiste a sua teima.

Fora isto, o seu porte é elegante.
No andar se maneia sem ter freima;
O rabo sempre ao alto e ondulante.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Terão graça os meus escritos?...

Amigas acham graça ao que eu escrevo...
Estranho, mas eu crei na amizade,
Em que não faltará sinceridade.
Por isso, a dizer-vos eu me atrevo,

Que, fazer rir alguém, é, na verdade,
Para a minha alma , sempre , um grande enlevo:
Ao humorismo eu tento dar relevo,
Nesta era cruel de adversidade,

Que deixa a dor nas almas sempre acesa...
Eu sinto-me feliz por fazer rir.
Se consigo, é mesmo uma proeza!

Peço a Deus que me ajude a prosseguir,
Com ciladas que assustem a tristeza,
E eu ria, também, vendo-a fugir...

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Encontrar e perder... Encontrar e perder...

"Em todas as ruas te encontro,
"Em todas as ruas te perco"...
...."Sonhei tanto a tua figura..."
"Em todas as ruas te encontro,
"Em todas as ruas te perco"...
Cesariny


Encontrar e perder... Encontrar e perder...

Deve ser de certeza uma aflição,
Encontrar nos seus sonhos a figura
desejada, com bela estrutura,
E logo encher com ela o coração;

Ter na rua, depois, grande ventura,
Num encontro real. Oh! Sedução!
Mas logo ali, na rua, a aparição
Se perde... E fica ele na tortura

De sonhar sempre mais, e encontrar,
Nos caminhos e ruas onde passa,
A figura querida, para amar;

Mas ela em cada rua faz pirraça;
Mostra-se, e logo foge, a arreliar...
E a rir de ver quanto o embaraça!...