sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O cantinho de uma praia


I
Um recanto de praia com mistério…
Céu luminoso, azul e tão suave…
Nem mancha do vulto de uma ave!
Pedras encasteladas com critério,

Como escada do Céu, sem entrave.
Na brancura da espuma, algo de etéreo,
Como halo de santo em presbitério.
E há musas, ali, no seu enclave.

Mancha negra… eis a gruta mais secreta
De sereias, lembrando a nossa fama!...
Lá está uma, a olhar, saudosa… erecta,

A ver passar Camões, Cabral, o Gama…
Vai -se o tempo… às sereias nada afecta…
O seu amor à Pátria mais se inflama.

II
Só em nós é que o Tempo causa estragos.
Vai-nos levando tudo da memória,
Até de quem lutou sempre em vitória,
Vão-nos ficando só uns sinais vagos…

Também há quem não preze a nossa História
E a deturpe, sem dar justos afagos,
Aos que nas aventuras, só de magos,
Nos trouxeram riqueza, honra e glória!

Sentem hoje as sereias e as musas,
A ingratidão do falso português,
Que à nossa História deu voltas confusas,

Onde toda a grandeza se desfez
E as musas e sereias são intrusas…
Heróis… perdem valor e honradez.

III
Mas ali, num cantinho junto ao Mar,
Como as praias cantadas por Camões,
Onde deixou saudades e paixões,
As sereias e musas têm lar.

Velhinhas, já de tantas gerações,
Saem da gruta, vão ao patamar
E lá ficam sonhando, ao luar,
Unidas pelas mesmas emoções:

Ver ao longe as saudosas caravelas
Da sua pátria amada, Portugal;
Sentir no coração que foram elas

Que deram a Camões força real,
Na descrição vibrante das procelas
Entre o doce prazer sentimental.

IV
─ Como demora a frota lusitana,
Com os seus mais valentes marinheiros!
─ E para nós, tão nobres companheiros!
─ Boa gente. Não tem alma profana. ─

Comentam, sempre à espera dos veleiros,
As sereias e musas, na cabana,
Dia e noite, naquela espera insana,
Sem avistarem velas, nem luzeiros…

Ó musas e sereias venturosas,
Crede que não há homem que suporte,
Como vós, as agruras dolorosas

Do Tempo, a dar-lhe sempre abalo forte.
Na vossa gruta, aí, tão vigorosas,
Não tendes a noção do que é a morte.

V
Enquanto houver poetas tereis vida.
Só eles vos sustentam fortemente,
Pois, sem vós, não se abre a sua mente
E lá fica a poesia adormecida…

Só eles vos acolhem ternamente.
E se lhes falta a vossa companhia,
Não terão os seus versos melodia,
Ficando o seu poema insipiente.

Só eles vos entendem na saudade
Que sentis pela frota lusitana;
Por Camões, vosso amigo de verdade:

Com a paixão, que até parece insana,
Fala de vós, com tal vivacidade,
Que vos livra da morte, que é tirana…

VI
È tirana, e é mesmo traiçoeira.
Vós, ai, recolhidas no enclave,
Aonde não se vê nem uma ave
Que vos possa servir de mensageira,

Não sabeis que a morte pôs entrave
À frota lusitana, essa romeira,
Que enfrenta o Mar, que nem por brincadeira!
Mas já passaram, séculos!... É grave!

Grave, não para vós, que não sabeis,
Que os bravos lusitanos marinheiros
Não voltarão, por mais que os espereis…

Só os poetas são vossos parceiros,
Hoje; e louvam o amor que não perdeis
Aos lusitanos, sempre aventureiros!

VII
Levam na alma a Fé; patriotismo.
Lá vão, vencendo as ondas, mesmo à toa…
Em mares a rugir!... Encontram Goa
E terras onde é grande o exotismo!

Sempre a dar rumo incerto a cada proa
Dos barquinhos, de quem tem estoicismo,
Lá vão… A vencer monstros no abismo!...
Donde em onde, vitória se apregoa!

Ides com eles, musas e sereias:
Testemunhais incríveis aventuras…
Agora… Num castelo sem ameias,

De pedras, onde só vejo aberturas
Da gruta, reviveis as odisseias…
Esperais…com os olhos nas lonjuras!...

VIII
Há séculos aí… Olhando o Mar!...
─ Os heróis lusitanos, sem temor,
Que venceram ciladas e agressor,
Não os vejo além, a navegar.

─ Deteve-os talvez o Adamastor…
E com ele estarão hoje a lutar.
─ E nós sem os podermos animar…
─ O lusitano é sempre vencedor!

─ Sim, só a eles cabem suas glórias. ─
Ai, musas e sereias iludíveis
Nesse avivar de velhinhas histórias!...

Séculos a passar… Mas invisíveis
Para vós, a viver só das memórias
De feitos, que são hoje inconcebíveis!...

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Sem autocaros directos somos lesados...

I
Sinto-me constipada fortemente,
Pelo que falto à aula com pesar.
Constipei-me por ter o grande azar,
De esperar autocarros, paciente,

Batida pela chuva até encharcar.
Culpa de governante prepotente,
Que não mostra respeito pelo utente:
Sem transporte directo para usar

Quando é para longe o seu destino.
Despejam-nos a meio da viagem,
Sem rumo e num grande desatino,

Mesmo à sorte, em qualquer uma paragem!...
O transporte não vem…Chuvisco fino
Ou grosso, nos encharca e dá friagem,

II
Ao nosso corpo, a dar estremeção.
Criancinhas chorando, sem pecados,
A sofrer, como adultos condenados,
Nas paragens, lugar de expiação,

Até ficarem mesmo enregelados!
Falha nos governantes a visão
Que dará acerto à governação…
A quem falta esperteza…São falhados.

Vítimas deles, são sempre os utentes,
Tirarem os “directos”, que imprudência!
Mostram-se, para o povo, insolentes.

Quando havia directos, a frequência
Limitada, era a causa das enchentes.
Mas tirá-los de vez, é a falência!...

III
Tais governantes, mostram utopias,
Em projectos que levam a Nação
Ao caos, em qualquer situação…
Irresponsáveis causam tropelias:

Os utentes, com seus passes na mão
Chamam táxi: despesa e arrelias…
Quem governa vê nisto ninharias…
Se nos transportes há tão má gestão,

E o povo adoece, ao tempo agreste,
Que lhes importam casos tão banais?...
O Governo nos transportes não investe,

Mas vai gastar, depois, mais, muito mais,
Se de perigo a gripe se reveste,
E há internamento em hospitais.

IV
Nada mais digo, aqui, de erros flagrantes…
Os seus autores não gostam das verdades,
Afeitos só a impor-nos a vontades,
Que saem de cabeças delirantes!...

Delírios a gerar atrocidades,
Cada vez mais injustas e constantes.
Eles, sempre com ares arrogantes,
Desdenham de quem vive as realidades,

Como eu, despejada nas paragens:
Ali ficamos à chuva… a encharcar!...
Não posso ir à aula em tais viagens…

O “Galo de Barcelos”, a voar,
Sendo tema da aula, dá vantagens,
De eu poder, assim, participar:

O Galo de Barcelos

I
Não conheço Barcelos, mas o Galo,
Esse é famoso, além de Portugal.
Com ele vai Barcelos, jovial,
Buscar a mesma fama! Que regalo!...

Sendo embora de barro, o animal,
Alguém teve a ideia de inventá-lo,
E, com mãos de escultor, pôs-se a moldá-lo
Até lhe dar a forma bem real.

Alguém que tinha um galo que estimava,
Talvez por ser dos mais belos tenores.
Quando o galo se foi... ela chorava...

Lembrou-se então moldá-lo com fervores.
Não pode dar-lhe a voz, que a encantava!
Dá-lhe vida na cor: profusas cores!...

II
E o galo colorido, assim berrante,
Levado por turista prazenteiro,
Lá se liberta, assim, do seu poleiro,
E vai, a correr mundo, como errente...

Barcelos, manda o galo, mensageiro,
E fica no seu berço, confiante,
De que vai receber muito emigrante,
Da sua terra, ou mesmo forasteiro,

Para lavar mais "Galos de Barcelos",
Que hão-de fazer mesmo romaria!
Os seus galos não cantam, mas são belos!

Na casa do emigrante, - que alegria! -
Ter um galo, de traços tão singelos,
Português, a fazer-lhe companhia!...